As viagens, assim como as festas, têm uma duração longa em nossa vida. Elas iniciam com o desejo, depois vem a busca, a pesquisa, a aquisição, a documentação, as malas, o trajeto e a realização de toda a emoção.
Mas não para por aí. Ao retornar, ela continua com a saudade, as histórias, os amigos que fizemos, os sabores que provamos, as lembranças que compramos, as fotos, com as mídias sociais, o compartilhamento da viagem...
Também não para por aí. Esta manhã acordei relembrando a viagem que fizemos para Indonésia, na ilha de Bali, e resolvi revivê-la e compartilhá-la com todos. Foi uma experiência única. Pensar que em 2018 ainda existem povos que vivem, habitam e pensam como este povo é realmente incrível e uma dica para sua próxima viagem.
Meu marido, sempre preocupado com embarque, precipitou-se e ligou para Emirates pedindo um carro maior. Quando nosso guia chegou, estava com um ônibus para apenas quatro pessoas. Absurdo dos dois lados, pois não precisava ligar e não precisava ser um ônibus. O guia, muito gentil, só faltou nos colocar dentro do avião.
Fizemos um voo de 4 horas, desta vez na econômica, e foi tranquilo. Chegamos a Bali num calor de 38 graus. Havíamos saído do frio e foi um baque.
A primeira experiência foi no toalete do aeroporto, quando encontramos um banheiro todo molhado e 4 vasos sanitários. Dois como os nossos e dois como os antigos de fossa, tudo muito sujo e a dificuldade foi encontrar papel higiênico nos banheiros. O que existem são canecas de cabos compridos para que você possa lavar-se e, desta forma, os banheiros são verdadeiras poças de lama. Portanto, carregue papel higiênico e álcool gel.
Na Polícia Federal, um cartaz: “Pena de morte para quem transportar ou utilizar maconha”.
Perguntei a nossa guia o que eles achavam da pena de morte e ela respondeu: “Pena de morte é normal, eles matam com tiros em locais privados”.
Senti-me em um filme, onde as nativas ficam no aeroporto recepcionando os turistas com colares, feitos de flores naturais enfiadas em um cordão grosso de linha.
Viemos numa perua super moderna. O trânsito é intenso, as ruas são estreitas, a estrada é muito ruim... A maioria das pessoas tem motocas, geralmente novas, e trajam roupas locais, como as que vemos em fotos e filmes. A cidade toda é um comércio, de móveis, esculturas Balinesas maravilhosas.
Observei que os barzinhos têm garrafinhas, que soubemos que é de algum refrigerante, com um líquido que soubemos ser gasolina para abastecer as motos a qualquer momento e lugar.
Chegamos no hotel e ficamos bobos com a beleza da arquitetura e do lugar. A hospitalidade é algo especial. Na entrada do hotel, um gongo que anuncia a chegada de mais um hóspede. Dois músicos tocando um instrumento típico como um pianinho de bambu. Com o passar dos dias, fomos percebendo que existe na entrada de todos os lugares. Cada um que chega toca para anunciar a chegada. Assim, este som não para nunca e está em todos os locais como um mantra.
Na recepção, a Balinesa veio nos colocar uma flor atrás da orelha e, nesta hora, eu emocionei-me muito, pois esta situação era tão desejada e remota que caí em lágrimas. O hotel era encantador, com as tendas pelo jardim para jantares privados num serviço impecável e discreto, geralmente para lua de mel.
Na manhã seguinte, pontualmente às 9h, estava nossa guia que estudara espanhol na esperança de um emprego em um dos hotéis, mas que não teve esta tão sonhada sorte. Ela estava numa van com ar e muita água, ainda bem que eles têm esta preocupação, e saímos para nosso passeio.
A cidade é um verdadeiro atelier de arte. Tudo é esculpido, tudo é trabalhado. Até mesmo as pedras que caem, eles esculpem.
Visitamos uma residência tradicional, denominada Singapadu. Logo na entrada tem uma placa que dá referência da pessoa que habita, o nome da casta, o nome da família, o número de famílias, o número de adultos, o número total de pessoas... Todas as direções da casa são estudadas e tem um significado. A cozinha é sempre à direita ao sul e na entrada da casa para que as compras sejam descarregadas imediatamente.
Os utensílios são mínimos, poisos alimentos que são feitos são simples. O arroz é a base da vida e a base da alimentação. Tudo é simbólico para este ato, as verduras e a carne são para acompanhar o arroz, tudo sempre muito condimentado. Eles dizem: “Se não pica, não tem gosto. Precisa picar, isto é comida. Sem pimenta não é comida”.
No meio da casa existe um local para descanso. Este é um quiosque aberto onde existe uma cortina própria para a cesta do dia que todos a fazem. No centro está a casa do casal principal, este quiosque tem uma varanda e um quarto fechado, todos dormem com as cabeças voltadas para Noroeste.
Existe uma casa dentro da casa que é para as visitas, esta casa é a mais ornamentada, trabalhada e está de frente a entrada principal.
Os animais e as plantas ficam ao sul do terreno para que o Deus do mar os proteja.
Toda casa tem grande parte do terreno dedicada ao templo. Mesmo as casas mais pobres. Esta parte do terreno geralmente é maior que a própria casa e é obrigatório. O templo fica no oeste da casa.
É habitual vermos as pessoas com alguns grãos de arroz presos na região do terceiro olho e na garganta. Isto significa que oram em frente ao arroz e os colam no terceiro olho para terem bons pensamentos. Na garganta, para que as palavras sejam boas.
Os deuses estão em tudo e em toda parte. Vemos alguns cobertos com um tecido xadrez de preto e branco, que significa a junção do bem e do mal. Ou dos dois opostos que queira simbolizar.
Quando amarelo e branco é dedicado a Shiva, Deus da destruição e transformação o grande renovador.
Quando vermelho a referência é a Bhama o grande criador.
Quando preto a referência é a Visnhu o protetor.
No caso, a casa que é aberta à visitação é fonte de renda. O morador abre a casa em troca de ajuda financeira.
O interessante é que eles fazem umas esculturas de pessoas torcidas e magras que, a princípio, parecem criaturassem referências corporal. Mas, com o passar do tempo, vamos observando uma grande semelhança entre os Balineses e as esculturas. A conclusão de terem esta estrutura corporal é o hábito de sentarem no chão, serem magros em função da alimentação a base de frutas e arroz, ficando muito flexíveis e semelhantes às esculturas.
A cor de pele para eles é a referência de beleza. Ser claro e ter pelos é significado de beleza. Assim como tiramos fotos deles por serem diferentes, eles tiram nossas por sermos brancos e peludos.
Em um templo, uma mãe colocou uma criança no colo de minha filha. Foi uma festa. A criança chorava e eu e a mãe tirávamos fotos pelas diferenças raciais.
Em visita a um “Pueblo Batik” “Toh Pai”, conhecemos a técnica desta arte. Conhecemos as roupas e o trabalho Batik da Indonésia, pois nos anos 80 tivemos uma grande importação destas. Foi moda, o que não conhecemos é como são feitas.
Num calor de 40 graus elas reúnem-se em volta de um pote de cera de abelha sobre uma chama para que fique sempre líquida. Colocam esta cera em um pequeno recipiente como um funil preso a um bambu e com esta cera que sai em um pequeno orifício, as mulheres contornam os desenhos para depois colori-los de pigmento colorido, ao lado ficam as costureiras e o Batik. Existe uma diversidade de tecido de texturas. É incrível pensar que tudo aquilo é feito artesanalmente.
Em uma galeria de arte, “Batuan” ao contrário do que pensava, a arte é moderna, e pintam de tudo.
Acabamos comprando um quadro da representação do plantio do arroz. Certa vez, compramos em Florença a representação do trigo e, agora, a representação do arroz.