Na altura do quilômetro 20 da Rodovia Raposo Tavares, sentido interior, à direita está Carapicuíba, uma cidade que oferece mão-de-obra aos elegantes condomínios que existem e que surgem a cada dia na região. Por conta disso, encontramos alguns parques populares que ficam repletos de pessoas aos finais de semana.
Em Carapicuíba, fica o heliporto Helipark, com grande número de aeronaves particulares e comerciais que atendem paulistanos e moradores. Neste contexto moderno e confuso, com tráfego intenso durante as tardes, existe um inacreditável oásis de paz, trabalho, arte, brasilidade e, o mais impressionante, uma aldeia jesuítica de 1580 intocável.
A impressão que temos ao chegar lá é que voltamos no tempo e não estamos tão próximo da capital. A aldeia é a única que sobrou da época. Nela, existem projetos grandiosos. Visitei alguns deles e, confesso, fui surpreendida.
Passei na Casa da Cultura, onde as pessoas trabalhavam na organização de adereços para a festa com dança e músicas folclóricas, que acontecerá neste sábado (16) às 16h. Lá fiquei sabendo que todos os sábados neste horário alguma festividade acontece.
No meio da praça, crianças tinham aulas de teatro. Durante essas aulas, não só os alunos vêm como também os seus irmãos, que mesmo sem participar são assistidos pelo responsável.
Passei na biblioteca que é aberta ao público, onde a literatura é preferencialmente brasileira, pois, em todos os projetos da aldeia, a essência é valorização e estudo das artes afro-brasileiras.
A casa de mães é surpreendente. Nela, as mães da aldeia desenvolvem o trabalho da renda renascença e ensinam o ofício a seus filhos. A profissionalização é realizada pelo Instituto Ecotece, uma ONG que investe na economia solidária e em artistas para fomentar valores éticos.
O projeto faz intercâmbio com o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerias. Uma vez ao ano, as mães da aldeia vão para Minas ensinar o ofício da renda renascença e as mulheres do Vale vêm para dar aulas artesanais de cerâmica.
Os produtos produzidos em ambos os lugares são vendidos na lojinha. Toda a renda da comercialização é dividida entre os dois projetos. Além disso, para ajudar a manter a casa, existe um brechó com doações de lojas e da sociedade.
Saindo de lá, fui rapidamente para a Oca, um centro cultural com repertório gestual, plástico, musical e literário da cultura brasileira. A Oca atente diretamente 180 crianças e 300 indiretamente, levando o projeto nas escolas da região.
Incrivelmente organizado, tudo foi apresentado com muito orgulho e com todos os detalhes, biblioteca, sala de costura, onde mães ensinam filhos, sala de música, com uma grande quantidade de tambores - muitos feitos pelas crianças -, entre outros instrumentos brasileiros. Além disso, o projeto conta com salas de massagem, dança e de múltiplas atividades. Enfim, uma verdadeira escola de arte brasileira.
Encantador em tudo! O acolhimento que tive foi humano e verdadeiro, uma realidade que precisa ser conhecida e mantida.